Depois de falar sobre o que são as constelações familiares, vamos ver o que não se resolve com constelação familiar, bem como requisitos importantes sem os quais a terapia fica prejudicada.
A constelação familiar não resolve nossas dificuldades pessoais para soltar o passado, o rancor ou os jogos psicológicos. A psicóloga e consteladora Brigitte Champetier de Ribes nos alerta sobre isso, e ainda esclarece que a constelação nos libera da influência dos antepassados, nos põe na força, limpa o que foi anterior a nós. Entretanto, em casos de traumas graves ou famílias desestruturadas, quando é preciso uma reconstrução da personalidade, é importante buscar apoio psicoterápico. Brigitte Champetier de Ribes, Empezar a constelar, Gaia Ediciones, 2019, p. 134 (1ª ed. 2010). Ainda é importante observar que constelação familiar não é psicoterapia, o cliente fala bem pouco sobre seu problema ou dificuldade. Igualmente, a constelação familiar não foca nas emoções, como acontece no psicodrama, por exemplo.
É importante dizer que nunca se deve fazer uma constelação por curiosidade, para descobrir algo sobre a família, ou com intuitos perniciosos, como o desejo de manipular algo ou alcançar um objetivo puramente egoísta, mesmo que cause dano a outros. Uma prática dessa natureza não é capaz de mobilizar as forças sanadoras e reconciliadoras que atuam numa constelação, ou seja, não vai funcionar. Além disso, tal tentativa pode ser prejudicial, piorando a própria vida em vez de melhorar.
Em qualquer situação, a constelação sempre é movida por uma energia de amor e reconciliação que apresenta soluções boas para todos os envolvidos no sistema em questão. Mesmo que racionalmente não encontremos soluções, numa constelação, uma boa solução surge, capaz de pacificar, reconciliar e integrar a todos com respeito e amor.
Existem muitas maneiras diferentes de constelar. Por que isso acontece?
Primeiro, é importante observar que muitos terapeutas mesclam a técnica das constelações com outras terapias energéticas, místicas ou espiritualistas. Esse ecletismo pode ser muito enriquecedor, pois pode permitir expandir o conhecimento terapêutico a partir de um olhar multifacetado, mas também corre-se o risco de perder contato que o que é essencial nas constelações familiares. Ou seja, mesmo que determinado terapeuta utilize as mesmas ferramentas que também são usadas nas constelações – por exemplo, a representação sistêmica – pode acontecer que esse terapeuta acabe ferindo princípios básicos das constelações, como as ordens do amor. Só para dar um exemplo, se o terapeuta não respeita profundamente os seus próprios pais ou os pais do cliente, ele estará ferindo a ordem da hierarquia e também do pertencimento, e essas ordens são forças de sanação e equilíbrio fundamentais numa constelação familiar.
Outro motivo por que vemos muitas maneiras diferentes de constelar é que as constelações evoluíram ao longo do tempo. O próprio Bert Hellinger, criador das constelações, modificou profundamente sua maneira de constelar nos últimos anos de seu trabalho, ao lado de Sophie Hellinger – a qual por sua vez, segue desenvolvendo novas técnicas terapêuticas. Brigitte Champetier de Ribes também desenvolveu um imenso conhecimento sistêmico, compartilha seus conhecimentos de maneira didática e continua desenvolvendo as constelações familiares. E poderíamos mencionar outros profissionais sérios e comprometidos que trabalham há décadas desenvolvendo as constelações, e entendendo o que é essencial nas constelações.
Em resumo, existem diferentes maneiras de constelar, e todas podem ser válidas, desde que os conhecimentos sistêmicos e a filosofia das constelações sejam respeitados.
A escolha do constelador faz diferença?
Sim. Cada um escolhe o constelador com quem vai se constelar. É muito importante que o constelador conheça e viva a filosofia das constelações familiares na sua própria vida, ou seja, que a vida e o trabalho do terapeuta sejam coerentes com essa filosofia da reconciliação e do amor.
O resultado de uma constelação depende em grande medida da profundidade do constelador, o seu conhecimento sistêmico e, sobretudo, sua capacidade de solucionar suas próprias questões e viver em sintonia com algo maior, o que permite conectar-se com a melhor solução para todos numa constelação.
É muito importante que o constelador tenha uma formação, tenha conhecimentos sistêmicos: entender as dinâmicas sistêmicas que causam doenças e tragédias e conhecer as forças do amor e de sanação e equilíbrio que atuam nas constelações. Porém, “a constelação não é uma construção mental”. Brigitte Champetier de Ribes, Empezar a constelar, Gaia Ediciones, 2018, p. 111. (1ª ed. 2010). Ou seja, o conhecimento apenas não é suficiente para constelar. Numa constelação, não estamos atuando como indivíduos apenas, mas como parte de um sistema familiar – e outros sistemas, como as relações de trabalho ou outros grupos de que participe. O constelador necessariamente precisa resolver os conflitos que surgem na sua própria vida, viver cada vez mais em harmonia com as ordens do amor e manter uma atitude respeitosa em relação a tudo e a todos. Só assim será capaz de olhar para questões graves e dolorosas junto com o cliente e acompanhá-lo no caminho de solução.
O que é o mais importante?
Hellinger sempre ressaltou que em primeiro lugar está a harmonia com os pais. Se uma pessoa não toma seus pais, ou seja, se não leva os seus pais no coração com respeito e amor, essa pessoa não pode ser consteladora. Não importa o que os pais fizeram de certo ou errado, não importa nem mesmo se a pessoa conheceu os pais. A aceitação incondicional dos pais é um requisito para aceitar incondicionalmente a vida recebida. Esse é o mais importante para viver feliz e em harmonia.
Isso vale para todas as pessoas, mas é fundamental para o constelador. Se um constelador vê os pais de um cliente com reservas, ou considera alguém do sistema familiar do cliente como mau, errado, inferior ou negativo, então essa constelação será superficial e seus resultados serão muito limitados – a constelação pode até ser prejudicial, pode piorar a situação em vez de ajudar.
Atuar em sintonia com a realidade
O benefício de uma constelação, o salto qualitativo, é possível quando podemos olhar para tudo e todos com respeito e amor, principalmente o que é mais difícil. Nossas maiores dificuldades sofrimentos, depois de sanados, se tornam fonte da nossa maior força. Tudo tem um motivo para existir, tudo faz parte da realidade. Se alguém ou uma situação do passado é vista como algo negativo, isso não poderá ser integrado com respeito e amor, e daí persistem os bloqueios, os traumas, as crenças limitantes. Nada pode ser excluído da realidade, ela é maior do que nossas crenças ou preferências pessoais. A realidade passada foi como foi, a realidade presente já está posta – mesmo que não me agrade, ela é como é. Se eu sou capaz de aceitar a realidade tal qual se apresenta, e ver cada um com respeito, então eu tenho amplitude interior, entro em consonância com tudo o que existe e, a partir disso, eu posso atuar em conexão com a realidade, sem ilusão, sem idealismos.
Enfim, não se trata tanto de analisar a maneira como a constelação é feita, e sim de observar seu potencial reconciliador, especialmente a postura reconciliadora e respeitosa do constelador para com tudo e todos, sem exceção.