Qual tema devo escolher para constelar? A minha atitude interfere na constelação?
A eficácia das constelações depende enormemente do constelador, mas a postura de quem vai se constelar também é fundamental. Sem certos requisitos, não adianta se constelar.
A escolha do tema
Quem decide se constelar, o faz por algum motivo. Diferentes dificuldades ou sofrimentos podem motivar uma constelação. Para entender mais sobre isso, vale a pena ler os artigos anteriores: “O que é constelação familiar” e “O que NÃO é constelação familiar”.
Numa constelação, sempre se trata do mais importante nesse momento da sua vida. O tema de uma constelação deve ser definido de maneira clara e objetiva. Brigitte Champetier de Ribes ensina que é importante conseguir resumir o tema em duas ou três frases, para conseguir focar no que se quer ver e mudar. Deve tratar de fatos, de algo concreto do que se possa formar uma imagem. Por exemplo: quero trabalhar e não encontro emprego, gasto tudo o que ganho, não encontro companheiro ou companheira, me irrito com todos, o fracasso escolar do meu filho, tenho câncer. Só o essencial, pois o acúmulo de informações pode distrair e assim se dispersa toda a energia. Brigitte Champetier de Ribes, Empezar a constelar, Gaia Ediciones, 2019, p. 85-87 (1ª ed. 2010).
Brigitte esclarece que não faz sentido fazer uma lista de temas, por exemplo: primeiro vou constelar meu trabalho, depois o amor, depois o dinheiro… isso não faz sentido. Uma única constelação pode ter efeitos em vários aspectos da vida. Depois de fazer uma constelação, se espera o tempo necessário para isso ressoar na nossa vida, para os efeitos aparecerem, ao mesmo tempo que vamos tomando mais consciência – algumas semanas, ou um mês, alguns meses, um ano, dois anos. Cada constelação é única. E durante esse período, os bons efeitos podem aparecer em diferentes âmbitos da vida. Mais tarde, quando sentir necessidade, poderá fazer outra constelação, com outro tema. A vida é desenvolvimento contínuo, cada fase apresenta novos desafios e oportunidades.
“Estamos no sistêmico, tudo está unido. Não se trata de ir ao mecânico e buscar um conserto em cada falha da nossa vida. Assim não funciona. Não se trata de ter uma lista do que não vai adiante. Aqui o princípio é o do efeito dominó, a vibração da sanação vai se implantar pouco a pouco e vai aumentar a ressonância com essa frequência, se iniciando um movimento se sanação aí onde a vibração aumenta. Por isso se trata de levantar o tema central, recorrente ou pontual, atual da pessoa, que incide em todos ou em muitos aspectos da sua vida. […] Seus fracassos, acidentes, esquecimentos ou sintomas são os espelhos retrovisores das fidelidades e emaranhamentos que se podem trabalhar em uma constelação.” Brigitte Champetier de Ribes, Empezar a constelar, Gaia Ediciones, 2019, p. 88 (1ª ed. 2010).
O constelador pode ajudar o cliente a se decidir com qual tema pode começar a constelação, mas não é adequado o constelador interferir diretamente ou determinar o que o cliente deve constelar. Constelar é uma escolha autônoma de um adulto que decide agir para solucionar algo, não é uma técnica mágica – apesar de às vezes seus bons efeitos irem além do esperado, parecendo serem mágicos.
Na escolha do tema também é importante não se ater a mágoas, interpretações pessoais, vitimismo ou criticismo. Uma constelação se baseia fundamentalmente em fatos ou situações concretas.
Sair dos padrões e encontrar soluções
Quando algo foi mal resolvido no passado, existe uma pressão sistêmica para que a dificuldade se repita no futuro, para que, dessa vez, encontremos uma solução criativa e reconciliadora. Passamos muito tempo em nossas vidas cumprindo demandas sistêmicas. Às vezes, acreditamos ser independentes, inovadores ou arrojados, mas na verdade estamos apenas reeditando dificuldades antigas e velhos padrões de comportamento.
A cada momento em nossas vidas, estamos atuando em ressonância com algo que veio antes, inconscientemente tentando resolver algo não resolvido pelas gerações anteriores: qualidade dos relacionamentos, violência, abusos, carência material, atitudes compulsivas, doenças, frustrações, falta de alegria de viver, etc. A questão é se vamos encontrar soluções realmente eficazes ou se vamos permanecer inconscientemente presos a comportamentos e atitudes que não melhoram a vida.
Por isso, seja o que for que estivermos vivendo, é positivo encarar a realidade da nossa vida atual com respeito, com postura adulta e evitar mergulhar no drama, mesmo sem entender todas as causas e implicações dessa realidade. Aceitar ver a realidade, render-se e aceitar que ela é exatamente como se apresenta nesse momento. Essa disposição, para olhar de frente até o que é mais difícil e doloroso, dá muita força para a constelação.
Nessa atitude reconciliadora e integradora, nos ampliamos. Passo a passo, somos cada vez mais capazes de integrar a tudo e a todos, tomar decisões verdadeiramente autônomas e encontrar soluções criativas e eficazes para todas as dificuldades que experimentamos.
Mudanças profundas na nossa vida requerem transformações interiores profundas. Cada constelação é um impulso em direção a mais harmonia, amor e realização. Depois uma constelação, é hora de integrar a nova percepção em nossa vida. Certa vez, diante de um cliente que queria fazer várias constelações em poucos dias, Bert Hellinger disse: “Tome como princípio que o saber está a serviço do agir. Quando já sei o suficiente para agir, paro de pesquisar e ajo. Quando quero saber mais do que preciso para agir, perco a força necessária para a ação. Então o saber se torna um substitutivo da ação”. Bert Hellinger, Ordens do amor, Editora Cultrix, 2007, p. 344. (1ª ed. 2001).
“Portanto, é importante que o cliente saiba que aqui se trata de um processo vivo, no qual se exige dele um passo de crescimento”. Bert Hellinger, A fonte não precisa perguntar pelo caminho, Editora Atman, 2012, p. 178. (1ª ed. 2002).
Qualquer que seja a dificuldade que se apresentar em sua vida, é possível integrar, reconciliar e assim fechar um ciclo. Então, você – e os seus descendentes – não vão mais sentir a antiga pressão sistêmica para repetir determinados comportamentos, ou entrar em situações difíceis, simplesmente porque esses conflitos já foram integrados. Assim surgem uma memória – um novo campo mórfico – de solução nesse sistema familiar, e situações semelhantes futuras tem muito mais chance de se resolver com sucesso.
Guiados por algo maior
Nas constelações atua uma sabedoria que é maior que nossos desejos, crenças ou mesmo conhecimentos individuais. Durante anos Bert Hellinger demonstrou e insistiu que os consteladores devem se deixar guiar por algo maior, uma força de amor que é profundamente transformadora e sempre atua no sentido de reconciliação de conflitos e integração do que estava excluído.
Constelador e cliente – e numa constelação em grupo, também os demais participantes e representantes – sintonizam com o sistema do cliente e, internamente, se colocam disponíveis para ajudar, se colocam a serviço do coletivo. Assim se conectam com esse algo maior, algo benévolo que guia as constelações no sentido da melhor solução para todos.
Numa constelação em grupo, os participantes se beneficiam na mesma medida que se colocam à serviço do coletivo. É a força que equilibra o dar e o receber. “Quem diz que tudo depende de que possa colocar a sua constelação familiar, nesse momento está alienado de sua própria alma.” Bert Hellinger, A fonte não precisa perguntar pelo caminho… p. 178. A constelação atua na vida dos demais participantes trazendo liberações e melhorias para todos que sintonizem, que deixem as constelações atuarem sobre si.
A postura adulta
Por isso, é importante que quem decide se constelar seja uma pessoa adulta, capaz de tomar suas próprias decisões. Alguém que se deixa levar por suas carências, vitimismo, críticas ou cobranças infantis, poderá ficar presa às suas resistências e fidelidades sistêmicas e, nesse caso, vai se beneficiar pouco ou nada de uma constelação.
Brigitte Champetier de Ribes destaca que Bert Hellinger “tinha muito presente a atitude do cliente. Somente trabalhava com quem assumia a sua própria vida com compromisso e humildade. A atitude adulta, a que vive as ordens do amor, provém de uma decisão pessoal e livre da pessoa; uma decisão de reconciliação, de respeito, de inclusão ou de rendição sem a qual seria inútil seguir adiante.” Brigitte Champetier de Ribes, Las fuerzas del amor, Gaia Ediciones, 2018, p. 14.
Benefícios
A cada constelação, e conforme vamos crescendo interiormente, percebemos a realidade com mais serenidade, encontramos caminhos de solução ou pacificação para todos os tipos de problemas, respeitamos o sofrimento de todos os envolvidos, até os que normalmente são considerados errados ou maus. A constelação nos permite ver a realidade com maior lucidez e consequente assentimento, menos idealizações e crenças que desviam nossa atenção e nos tiram a capacidade de atuar de maneira eficiente e eficaz.
Nos tornamos agentes de soluções e não acumuladores de problemas. Nossa vida se torna cada vez mais harmoniosa, plena e feliz. Aos poucos, situações mais leves vão se apresentando na vida, de modo que podemos dizer que o destino começa a mudar de uma maneira antes inimaginável, para muito melhor.