Este livro, lançado em 2002, é uma compilação de comentários feitos em cursos de constelação familiar ministrados entre 1992 e 2000. Contudo, sua interpretação apresenta uma nova compreensão sobre temas fundamentais nas constelações, abrindo um campo de reflexões que transformariam as constelações nos anos seguintes.
Ainda que praticamente não haja descrições de constelações, o livro todo se baseia em registro de falas, comentários, explicações, que se referem sempre a uma constelação, uma orientação, ou seja, uma situação concreta vivida em um dos cursos de constelação registrados. É um livro muito profundo que aborda uma ampla gama de temas, e como o próprio Hellinger observa, pode-se começar a leitura em qualquer parte do livro.
Hellinger apresenta uma evolução importante da filosofia ao descobrir o que ele denominou de “movimentos da alma”. Para quem não está acostumado a ler sobre constelações, o termo “alma” pode gerar muita confusão. Aqui não se trata de alma individual, e sim, ele chama de “alma” algo coletivo, um movimento que unifica um sistema familiar e o conduz ao equilíbrio. Ele nos convida a nos despedirmos da ideia ocidental de que o ser humano tem uma alma pessoal. Ele afirma que não temos uma alma, mas sim, participamos, estamos numa alma. Ela tem duas funções: une e dirige os sistemas.
Alguns anos depois dessa compreensão filosófica, Hellinger começou a modificar não só sua maneira de pensar, mas de atuar. Em alguns anos, Hellinger passaria a interferir menos, ao perceber que não é o constelador quem conduz as constelações, mas outra força: o movimento da alma, ou seja, esse movimento que conduz todo o sistema a uma solução que une e harmoniza a todos.
Para sintonizar com esses movimentos, Hellinger explica o conhecimento fenomenológico: a compreensão chega pela percepção, na atitude de esvaziar-se e expor-se sem intenções. (Um movimento do observador de detenção e retração, diferente do conhecimento científico, por exemplo, que é um esforço de extensão). Não controlamos a terapia fenomenológica, apenas nos expomos, sem qualquer intenção ou temor, reconhecendo o que vem à luz.
Nesse livro, Hellinger retoma o tema da consciência e define as ordens do amor: pertencimento; compensação e precedência. A sua compreensão sobre a ordem do pertencimento chega à maturidade ao afirmar que, em um nível elevado, todos têm igual direito de pertencer ao sistema familiar. Numa constelação, inclusive os assassinos têm direito a pertencer ao sistema familiar, e assim todos encontram a paz. É permitido a cada um ser exatamente como é, um ser humano como todos os demais.
A grande alma pode tomar o indivíduo a seu serviço, de modo que “os chamados bons e os chamados ruins estão no mesmo serviço. Essa atitude acaba com a soberba e arrogância. Se cada um estiver em harmonia consigo mesmo, então pode respeitar a todos e, acima de tudo, respeita também a si mesmo”. Bert Hellinger, A fonte não precisa perguntar pelo caminho. Atman, 2012, p. 53.
Hellinger diferencia o amor cego, que gera emaranhamentos sistêmicos, do amor adulto, mais amplo. Explica que, para a criança, o bem maior é o amor. Porém, trata-se do amor infantil, amor cego que conduz a tragédias, pois nutre ideias mágicas de que o próprio sofrimento pode evitar o sofrimento de outros, e com isso pode se envolver em diferentes dinâmicas sistêmicas que geram sofrimento e tragédias. Afirma que, para o adulto, não existe um bem maior, pois quando se está em harmonia, vive-se o respeito e o assentimento a tudo e a todos.