Um livro sobre a aplicação das constelações no âmbito da educação, escrito em 2001, ou seja, dentro da metodologia das primeiras constelações familiares ou constelações tradicionais.
A autora atuava como professora na Alemanha, e transferiu a visão “sistêmica” da terapia para sua rotina diária numa escola de crianças oriundas de famílias de baixa renda.
Muitos eram estrangeiros e alguns tinham perdido o pai na guerra. Havia alunos de diferentes países, muitos eram de famílias de refugiados de guerras e estavam vivendo na Alemanha em situações precárias. Havia muitas vivências de perdas, traumas e violências na história de vida daquelas crianças que. Marianne Franke-Gricksch trabalhou principalmente com turmas de 5ª e 6ª séries. “Decidi descrever minhas ideias e procedimentos da forma como elas evoluíram como um processo interativo na classe e renunciei a uma sistemática contínua em favor de uma descrição mais próxima à vivência.” Marianne Franke-Gricksch, Você é um de nós. Atman, 2005, p. 12.
O livro foi escrito quando se realizavam as constelações tradicionais, nas quais o próprio Bert Hellinger, ou o cliente, colocava os representantes e testava novos lugares para eles dentro da constelação, em busca de uma imagem ideal, de solução. Porém, nesse livro, Marianne Franke-Gricksch realizou diversas atividades bastante inovadoras e arrojadas com os alunos em sala de aula, chegando a se desenvolver verdadeiras constelações entre os alunos. A educadora teve a sensibilidade de perceber a autenticidade e profundidade dos movimentos sistêmicos que se desenvolviam em sua sala de aula. Colocava os alunos como representantes dos sistemas familiares uns dos outros, numa das atividades que a professora chamou inicialmente de “jogo da família”. Como professora criativa e inovadora, ela não se prendia excessivamente aos métodos, e sim explorava o potencial do conhecimento sistêmico, que fazia questão de compartilhar com os alunos, dentro de suas possibilidades, dentro das atividades com as quais os alunos se envolviam com interesse.
Trabalhou com a capacidade de perceber sentimentos e sensações sobre o outro; honrar os pais; reconhecer sistemas, organizações e hierarquias, incluir a todos, vivos e mortos. Tudo isso utilizando diferentes maneiras de expressão – escrita, oral, teatral, desenhos… Reservava um horário toda semana para desenvolver essas atividades focadas nos relacionamentos humanos. Alguns atos são fatos aparentemente singelos, algumas soluções parecem fáceis, mas que revelam uma coragem, objetividade e assertividade surpreendentes para um contexto de sala de aula.
Porém, é muito importante fazer uma ressalva: depois de toda a sua experiência, a própria autora afirma que não é apropriado realizar constelações com os alunos. Nas suas palavras, ao final do livro: “Fazer constelações familiares não faz parte da tarefa educacional de uma escola, e eu desaconselho qualquer professor a fazer isso.”
O livro é um relato das vivências e observações sistêmicas profundas da autora, mas não se limita a isso. Traz diversas soluções e abordagens que podemos usar para ajudar alunos ou grupos de maneira geral, sem a necessidade de fazer efetivamente uma constelação. Há casos que mostram ser possível ajudar até mesmo alunos que desejam morrer, ou carregam consigo profundos traumas decorrentes de mortes na família ou experiências violentas.
Por exemplo, como no caso de um menino muito introspectivo e sem amigos, que havia assistido alguns antigos amigos fazerem coisas muito violentas no seu país de origem, durante uma guerra. Ele nunca tinha falado sobre isso com ninguém, nem mesmo com seus pais. Ele julgava errado o que os meninos tinham feito, mas ainda assim considerava que eram amigos dele. Ele tinha medo do que pensariam dele se ele relatasse as coisas que os seus amigos haviam feito. Com muita sensibilidade, a professora conseguiu ajudá-lo a falar sobre isso com ela. Então, ela ajudou o menino a comunicar isso aos seus pais, e ele se sentiu aliviado. Depois disso, foi capaz de fazer amigos na escola.
Também tem o caso de um menino que se mostrava insolente e perturbador na sala de aula, e ela percebeu que se tratava de um desejo dele de se diferenciar dos colegas, pois sentia que não pertencia à turma. O menino começou a se transformar depois de uma atividade na sala de aula em que a professora e todos os alunos da turma, um de cada vez, disseram para esse menino: “Você é um de nós”.
Assim, o livro apresenta descrições e explicações de diferentes atividades realizadas com os alunos, baseadas no conhecimento sistêmico, bem como os efeitos positivos sobre as crianças e suas famílias e sobre o relacionamento entre os alunos. A perspicácia e coragem das atuações de Marianne Franke-Gricksch, aliadas à criatividade e pró-atividade da professora na interação com suas turmas, nos brinda um livro com profunda sensibilidade sistêmica e com uma abundância de ideias.
Sobretudo, principalmente para quem é educador e conhece o contexto de sala de aula, o livro é instigante e inspirador. Ensina uma postura sistêmica, um olhar apurado para pensar de maneira inovadora e libertadora o contexto da sala de aula. Nos faz ver que é possível o professor manter sua autoridade e, ao mesmo tempo, aproximar-se dos alunos e favorecer que os alunos aproximem-se entre si e com seus familiares. A autora relata as dificuldades que vivenciou e como conseguiu aproximar famílias e escola e manter um bom relacionamento com os colegas professores e a direção da escola, com respeito à precedência e à função de cada um.
Ela mostra caminhos de ajuda para os professores conseguirem cumprir seu papel de educadores e se manterem bem, fortes e em paz, nessa jornada desafiadora. Inspira maneiras de ver cada aluno e ajudá-los a crescer, integrados à escola e em harmonia com sua realidade social e familiar, podendo assim atuar em suas próprias vidas de maneira positiva. É um livro encantador, em especial para quem trabalha com crianças e adolescentes.