Viver em harmonia com as forças do amor faz a vida fluir, e nos tornamos centrados, produtivos e criativos. Mas como fazer isso? Viver em harmonia com as forças do amor é uma atitude interna.
Brigitte Champetier de Ribes nos explica que as constelações são o resultado de uma filosofia. Podemos observar que os resultados das constelações dependem de que o constelador e quem se constela vivam essa filosofia na vida prática. E um dos principais conhecimentos para a vida prática é a compreensão das “ordens do amor”, ou “forças do amor”, que nos conduzem a um amor maior.
Ordens e consciência
Como explica Bert Hellinger, o que conduziu aos conhecimentos sobre as ordens do amor foram as compreensões sobre a consciência. “Existem muitas consciências, e essas consciências seguem ordens. São basicamente as ordens do amor.” Bert Hellinger, A fonte não precisa perguntar pelo caminho. Atman, 2012, p. 23-24.
Instintivamente, nossa consciência nos faz sentir culpados quando não seguimos os comportamentos, valores e crenças do nosso grupo – mesmo quando fazemos algo bom para outras pessoas, mas que é mal visto pelo nosso grupo, ou por alguém importante para nós. Para entender como funciona a nossa consciência, veja o artigo: A consciência moral, em https://faconste.com/2023/04/20/a-consciencia-moral/.
Ao mesmo tempo, os membros dos grupos a que pertencemos, em especial nossa rede familiar, são unidos por algumas forças, formando uma unidade que Hellinger chamou de uma “alma familiar”, ou “consciência inconsciente” – trata-se do sistema familiar. Ou seja, cada família tem uma “consciência” comum, que vincula seus membros e que é totalmente inconsciente para nós. Para saber mais sobre o sistema familiar e quem pertence a ele, veja o artigo O sistema familiar e a consciência arcaica, em https://faconste.com/2023/05/22/o-sistema-familiar-e-a-consciencia-arcaica/.
Bert Hellinger descobriu que não somos indivíduos isolados, mas estamos inexoravelmente ligados a nosso sistema familiar. Esse vínculo pode produzir efeitos muito mais fortes do que imaginamos. Boa parte das nossas escolhas, preferências, decisões, e mesmo alguns dos eventos inexplicáveis no nosso destino podem ser determinados por nosso pertencimento ao sistema e, nesse caso, não resultam de nossas escolhas individuais e livres, nem do acaso. São verdadeiras forças que nos vinculam e buscam equilíbrio nas trocas, e que são inconscientes para nós. Quando em harmonia, as forças que vinculam os membros dos sistemas familiares conduzem para mais vida, harmonia, saúde, sucesso; mas quando em desarmonia, essas forças conduzem a doenças, fracassos, tragédias e mortes.
As ordens do amor expressam necessidades fundamentais para a convivência humana.
“Em todos os nossos relacionamentos, as necessidades fundamentais atuam umas sobre as outras de maneira complexa:
1. A necessidade de pertencer, isto é, de vinculação.
2. A necessidade de preservar o equilíbrio entre o dar e o receber.
3. A necessidade da segurança proporcionada pela convenção e previsibilidade sociais, isto é, a necessidade de ordem.” Bert Hellinger, A simetria oculta do amor, Cultrix, 2014, p. 17.
As ordens ou forças do amor
A ordem do pertencimento tem a ver com o espaço, é o respeito ao lugar de cada um. É a força que vincula aqueles que pertencem a uma rede ou um sistema de relacionamentos. A ordem do pertencimento garante que seja reconhecido a cada um o mesmo direito de existir e ser quem é, e que seja respeitado o seu direito de pertencer ao seu sistema familiar, bem como aos demais grupos aos quais se vincule. Isso significa respeitar cada um como é, sem sentir-se ou colocar-se como superior.
A ordem do equilíbrio ou compensação entre dar e receber, atua no sentido de organizar as relações sociais. É a força que busca equilibrar o intercâmbio entre os indivíduos e, assim, tornar viável a vida social. Quem dá algo aos demais tem o desejo, consciente ou inconsciente, de receber uma recompensa. Igualmente, quem recebe deseja retribuir, de maneira consciente ou inconsciente – ou, se não for possível retribuir para a mesma pessoa, passar adiante, beneficiando outras pessoas. Em caso de impossibilidade de realizar algo, por alguma incapacidade ou o que for, a compensação pode vir pela gratidão. O sentimento genuíno e profundo de gratidão é o que opera grandes reequilíbrios e harmonização no nível do dar e receber.
Entre pais e filhos, é impossível retribuir a vida recebida, pois ela é imensamente valiosa. Por isso, temos uma dívida de gratidão impagável com nossos pais – não importa o que tenham feito de certo ou errado, bom ou mau – pelo simples fato de que nos deram a vida, algo de tão grande valor. Assim, entre pais e filhos o equilíbrio está na atitude dos filhos de receber com gratidão o que seus pais têm para dar – e que os pais deem aos filhos o seu melhor, passando a vida adiante da melhor maneira possível e compensando, assim, o fato de já terem recebido anteriormente de seus próprios pais.
Observe-se que as ordens do amor não atuam no nível emocional, onde guardamos as mágoas, ressentimentos e traumas. As ordens do amor atuam num nível mais profundo, existencial: a ordem da compensação atua de maneira objetiva relacionada à nossa existência, a tudo o que leva a vida adiante, o que possibilita a vida e ajuda a viver.
A ordem da hierarquia tem a ver com o tempo, o momento em que cada um passou a pertencer ao sistema. Quem chegou antes tem prioridade sobre quem veio depois – isso significa que os mais jovens numa família, ou quem entrou por último numa empresa, se fortalece quando sente respeito pelos mais velhos ou pelos que estão há mais tempo na empresa ou organização (existem ainda outros aspectos importantes na hierarquia, como a função e o desempenho, que veremos num artigo específico, mas a ordem de antiguidade sempre deve ser levada em conta).
A hierarquia entre os sistemas funciona ao contrário da hierarquia entre indivíduos: os sistemas mais novos têm prioridade sobre os mais antigos – por exemplo, quando os filhos saem de casa e formam sua própria família, aos poucos os pais vão se retirando de cena, e a nova família passa a ter o protagonismo, na própria vida e na sociedade. Essa prioridade dos sistemas mais novos favorece a inovação e evolução na sociedade.
Essas três ordens do amor, compreendidas por Bert Hellinger, não foram inventadas, e sim descobertas a partir da observação fenomenológica. Essas “regras”, ou “forças”, atuam juntas para que a vida social seja possível e, quando respeitadas, aumentam a harmonia nas relações humanas e a realização pessoal.
Em breve vou trazer artigos sobre cada uma das ordens ou forças do amor, detalhando mais e trazendo exemplos.
Assentir é a primeira força do amor
Brigitte Champetier de Ribes, ao longo de décadas atuando como consteladora familiar, percebeu que essas ordens funcionam como verdadeiras forças. Passou a chamar as ordens do amor de forças do amor – esse é o título de um de seus livros, publicado em 2017 – e incluiu o assentimento como a primeira força do amor. Nas suas palavras:
“Ao longo desses anos me surgiu uma importante reflexão sobre a visão de Hellinger e as ordens do amor. Ele sempre priorizou o assentimento à vida como ela é, ao reconhecimento da realidade como ela é e, ao mesmo tempo, à conexão com algo maior – ele chamava de outra dimensão, ou, com as palavras que fosse. Unia sempre o assentimento incondicional e a conexão com algo maior como o primeiro, e depois as ordens do amor. Então, por isso, agora me proponho a falar sobre quatro ordens de amor, sendo a primeira o “sim”. E não apenas quatro ordens de amor, mas deixar de falar de ordens de amor, e sim de forças de amor.” Ver https://youtu.be/aieEXIilsUg, primeiros minutos do vídeo (tradução própria).
Brigitte destaca que Hellinger sempre afirmava que o assentimento, a aceitação, vem em primeiro lugar. Por isso, ao incluir a aceitação entre as forças do amor, Brigitte deu ainda mais destaque a esse pressuposto que Hellinger sempre ressaltava.
“Se temos em conta essa insistência de Bert sobre a necessidade de priorizar sempre a entrega e o assentimento a algo maior, mesmo antes de falar de ordens do amor, é coerente, benéfico e mais simples afirmar, sem faltar com o respeito a Bert Hellinger, que existem quatro ordens do amor: o assentimento, a ordem, o pertencimento e o equilíbrio entre dar e receber. Dito com outras palavras: a rendição, o respeito, a inclusão e o agradecimento.” Brigitte Champetir de Ribes, Las fuerzas del amor, Gaia Ediciones, p. 26. (Tradução própria).
Como atuar de acordo com as forças do amor?
Aprendendo a agir, no dia a dia, em consonância com as forças do amor, vivemos em outro nível de harmonia e capacidade de realização.
Assentimento ou concordância: Essa força fala de assentir à realidade, nos rendermos, ou seja, deixar de rejeitar a realidade tal qual se apresenta no momento presente. “Quando chegamos a concordar com amor, essa força nos oferece o sucesso, abrindo-nos para uma nova possibilidade de nível superior”. Brigitte Champetir de Ribes, Los desafíos de la vida actual, Gaia Ediciones, 2019, p. 46. (Tradução própria).
Trata-se de estar em harmonia com a realidade presente. Este é o primeiro requisito para que as demais forças do amor nos levem a uma vida mais plena.
O contrário disso é manter-se preso aos preconceitos e julgamentos e, dessa forma, preso às compensações norteadas pela consciência arcaica, que fazem aumentar o sofrimento, a exclusão e as dificuldades de toda ordem.
Como observa Brigitte Champetier de Ribes, as ordens da hierarquia, pertencimento e compensação atuam tanto a nível individual como a nível coletivo. “Porém o assentimento ao que existe é apenas uma decisão pessoal.” Brigitte Champetir de Ribes, Las fuerzas del amor… p. 33. (Tradução própria).
Ordem ou hierarquia: “A força do reconhecimento das prioridades nos mostrará com todos os desconfortos e fracassos nossa falta de respeito pelos mais velhos e nos dará humildade e força todas as vezes que estivermos em nosso lugar, reconhecendo o que veio antes e assumindo nossa responsabilidade.” Brigitte Champetier de Ribes, Los desafíos de la vida actual… p. 46. (Tradução própria).
Significa respeitar quem chegou antes. Tudo e todos tem seu lugar, tem seu tempo. Tudo foi necessário e todos são importantes da maneira que são. Todos vivenciam desafios, possibilidades e limites, a cada momento histórico, a cada etapa da vida. Quando assumimos nossas responsabilidades presentes de maneira adulta, fazendo o nosso melhor a cada etapa da vida, assumimos o que cabe a nós, a cada momento. Assim desenvolvemos nossas capacidades e atuamos de maneira positiva no mundo.
O contrário disso seria permanecer numa atitude de queixas, culpando os outros pelos problemas que surgem, vivendo em atitude agressiva ou escapista diante dos desafios. Quando não conseguimos assumir plenamente o nosso lugar, inconscientemente estamos nos colocando no lugar de outros membros do sistema, e então podemos nos sentir maiores – em atitude de julgamentos, cobranças – ou menores – experimentando medos e inseguranças injustificadas. Esse desrespeito ao papel e ao lugar de cada um gera desequilíbrios sistêmicos que exigem reparação, compensação.
Pertencimento: “A força do respeito criará exclusão e doença nas pessoas – e descendentes – que se sentem superiores aos outros. Ao contrário, dará plenitude àquele que respeita a todos”. Brigitte Champetier de Ribes, Los desafíos de la vida actual… p. 46. (Tradução própria).
Incluir tudo e todos como são significa respeitar o direito de cada um de existir e ser respeitado como é. Respeitar a dignidade de todos e de cada um é sentir que todos somos igualmente seres humanos – mesmo os que cometeram atos terríveis.
Essa força, quando em desequilíbrio, gera a necessidade sistêmica de reequilíbrio, de compensação.
Equilíbrio ou compensação entre dar e receber: As relações entre adultos precisam de equilíbrio entre o dar e receber. O dar e o receber são as duas polaridades nas quais nos movimentamos constantemente, pois é através das trocas que é possível a vida em sociedade. Essa força equilibra as perdas e ganhos, danos e benefícios. Pode compensar no positivo ou no negativo.
A força da compensação:
“Trata da nossa estrutura energética, inteiramente feita de polaridades, na procura contínua do menor dispêndio energético, ou seja, da maior harmonia. Essa força é a que funde todos os opostos em um grande movimento de criação de energia”. Brigitte Champetir de Ribes, Las fuerzas del amor… p. 30. (Tradução própria).
“A quarta força do amor também significa agradecer: equilibrar dar e receber é retribuir continuamente o que foi recebido. E como devolvemos? Dando. (…) Sentir gratidão incontida por tudo é o sinal de que estamos vivendo no momento presente”. Brigitte Champetir de Ribes, Las fuerzas del amor… p. 31. (Tradução própria).
Quando sentimos gratidão temos alegria de viver e nos sentimos totalmente disponíveis para trabalhar, cuidar, criar, realizar, enfim, doar nosso tempo e nossas capacidades a serviço da vida. E assim, “vamos construindo nosso futuro e o de todos abraçando as dificuldades como fontes de plenitude”. Los desafíos de la vida actual, p. 46. (Tradução própria).
Para onde as forças do amor nos levam?
As forças do amor nos conduzem ao crescimento interior, a ser cada vez mais autônomos em relação a juízos morais e preconceitos. Também leva cada um a assumir o seu lugar e as próprias responsabilidades, nutrindo no coração um amor cada vez mais amplo.
“Se a visão de vida dessa pessoa continuar a ser infantil, excludente, moral, as forças do amor que corrigem a exclusão aparecerão em sua vida e na de seus descendentes na forma de fracassos, doenças e tragédias. Ao contrário, se o olhar da pessoa foi se tornando inclusivo, ou seja, ela está renunciando às dicotomias, julgamentos e suas preferências, sentindo-se responsável por todos os seus atos, sua vida fluirá para uma maior unidade, transformando-se a cada dificuldade assumida.” Brigitte Champetier de Ribes, Los desafíos de la vida actual… p. 21-22. (Tradução própria).
Na prática, trata-se de superar nossas atitudes preconceituosas, excludentes, arrogantes, nossas crenças e fidelidades tribais, ou seja, a consciência arcaica.
“O objetivo das forças do amor é que experimentemos a humanidade como totalidade e unidade, precisamente em um ambiente onde tudo está dividido e separado, e isso só pode acontecer no momento presente. O momento presente é sempre plenitude (…).” Brigitte Champetir de Ribes, Las fuerzas del amor… p. 133. (Tradução própria).
Amor
Por que se chamam forças do amor? De que amor se trata?
Hellinger não se referia ao amor emocional, romântico ou passional.
Hellinger percebeu que existe um vínculo inconsciente que une os membros de um sistema familiar, isto é, vínculo no nível da consciência arcaica, é o amor arcaico ou tribal. Esse vínculo é regulado pelas forças do amor, de modo que quando essas forças não são respeitadas, surge a necessidade de reparação, reequilíbrio. Quando excluímos, desprezamos, esquecemos ou rejeitamos alguém que, de alguma maneira, pertence ao nosso sistema familiar, as forças do amor atuam para compensar essa ofensa, geralmente com fracassos, doenças, tragédias e morte. Isso acontece de maneira inconsciente para nós, por isso Hellinger chamou esse vínculo de amor cego ou amor que adoece.
O amor que cura é de outra natureza. É o amor mais amplo, mais inclusivo, e está para além dos limites dos julgamentos, da moralidade e das crenças de cada família e dos grupos específicos, ou seja, da consciência arcaica. Ao expandir nosso amor e abraçar em nosso coração todas as pessoas que, por qualquer motivo, foram desprezadas, rejeitadas, esquecidas no nosso sistema familiar, ocorrem profundas reconciliações que impactam profundamente a nossa vida – e também a vida de outras pessoas do sistema, trazendo harmonização, saúde, criatividade.
Ao longo de décadas de estudos e observação, Hellinger entendeu como funcionam as ordens ou forças que conduzem a vida para um amor cada vez mais universal e incondicional, para a plenitude e felicidade. Porém, quando vivemos em desarmonia com essas forças, presos a padrões arcaicos de moralidade, crenças e julgamentos, nossa vida se afasta desse amor, pois nos voltamos inconscientemente para padrões repetitivos de sofrimentos, doenças e dificuldades de toda ordem. Esses são os efeitos dos diferentes padrões de relacionamentos humanos. Não é apenas uma teoria, é o que se observa claramente através das constelações familiares.
Brigitte Champetier de Ribes explicou de maneira clara o sentido das forças do amor:
“O que entendo é que a humanidade é amor em crescimento e cada um é uma ligação nessa cadeia em direção a um amor maior. E as leis do amor descobertas por Hellinger, as ordens do amor, são verdadeiras forças que transformam, que empurram a vida para mais amor. Porém, não para mais amor emocional, mas para o amor maior, que assente a tudo exatamente como é. Por isso, transformei a palavra ordens do amor em forças do amor, porque quando se representam as ordens do amor, são verdadeiras forças que movem toda a humanidade.” Ver https://youtu.be/vIBydGvuMUI, a partir de 7 minutos e 24 segundos. (Tradução própria).
Hellinger explicou a amplitude daquilo que ele entendia por amor:
“No fundo, esse amor é o reconhecimento de que entre todas as pessoas, por trás das diferenças, existe uma profunda igualdade.
O amor mais profundo é experimentado quando alguém é reconhecido como é, quando é reconhecido como necessariamente assim: assim está bem. Embora ele seja diferente de mim e eu diferente dele, ambos reconhecemos que somos igualmente bons. Este é o autêntico amor. Não o fato de abraçar alguém, ou algo assim. Isso se moveria em um plano muito superficial. Esse amor, no fundo, é uma concordância com as forças mais profundas e tem algo de religioso.” Bert Hellinger, Reconocer lo que es, Herder, 2000, p. 63-64. (Tradução própria). (Na edição em português, o título do livro é: Constelações familiares: o reconhecimento das ordens do amor).
Quando Hellinger começou a desenvolver as constelações familiares, Hellinger percebia as forças do amor – forças de vínculo e compensação – atuando dentro dos limites da consciência arcaica, consciência moral – ele chamava esses movimentos de movimentos da alma, como ele chamava o sistema familiar, a alma familiar. No início da década de 2000, os movimentos nas constelações alcançavam algum equilíbrio, mas as soluções ainda eram parciais – alguns membros do sistema ainda eram retirados da representação – excluídos do sistema familiar – durante as constelações, pois se entendia que algumas pessoas perdiam o direito de pertencer depois de terem feito coisas terríveis. Porém, quando o pertencimento não é pleno, as outras duas ordens, da hierarquia e da compensação, levam a tragédias e mortes, dentro de uma consciência arcaica que é vingativa, punitiva e autopunitiva.
Quando o pertencimento é pleno, ou seja, quando aceitamos que todos têm o mesmo direito de pertencer, reconhecemos que todos têm a mesma dignidade humana. Estamos no nível de um amor maior que guia a todos nós, sem exclusões. Em meados da década de 2000, Hellinger passou a chamar esse profundo amor de “movimento do espírito”. Nessa época, afirmava que era uma força externa a nós.
Mais ou menos em 2010, porém, percebeu-se que as forças que movem as constelações não são externas a nós. Elas são constitutivas do nosso ser, estão em nós mesmos. Aprendemos a perceber quando estamos em desarmonia, vivendo conflitos e incoerências sem solução na nossa vida; ou, ao contrário, quando vamos resolvendo as oposições, nos harmonizando com tudo e todos, coerentes com o nosso melhor, seguindo em direção à nossa plena realização. É uma postura muito presente e ativa.
Brigitte expressa bem a profundidade dessa filosofia:
“A finalidade do sistema familiar é transmitir a vida. As forças do amor são as principais dimensões da vida humana: tempo, espaço e mudança ou criatividade. Tudo está ordenado no tempo-espaço, ao mesmo tempo que tudo tem que ser compensado para criar movimento e evolução, ou seja, para criar vida.” Brigitte Champetier de Ribes, Las fuerzas del amor… p. 33. (Tradução própria).
Essa é a meta das ordens do amor: nos conduzem à vida. O caminho é o pleno respeito à dignidade de todos e de cada um; o respeito à hierarquia, ou seja, ao lugar de cada um a cada momento; e o equilíbrio dos intercâmbios por meio da gratidão e do servir à vida. Atuando em sintonia com essas forças, elas nos conduzem a novas possibilidades de plena realização da vida.