Constelações familiares: o reconhecimento das ordens do amor – Bert Hellinger – 1999

Este livro está escrito em formato de perguntas e respostas. Resulta de entrevistas concedidas por Hellinger à jornalista Gabriele ten Hövel. As perguntas são perspicazes, e as respostas alcançam uma profundidade surpreendente. Impossível abarcar aqui todos os temas e, por isso, somente comento alguns pontos. 

Primeiro, é importante ressalvar que esse livro foi escrito no período em que Hellinger desenvolveu as primeiras constelações familiares, as constelações tradicionais. A base da sua filosofia e conhecimento sistêmico já estava amadurecida, mas sua filosofia e prática amadureceram e se modificaram bastante durante a década de 2000. 

Nesse livro, Hellinger apresenta suas compreensões sobre o assentimento. Assentir não significa concordar ou gostar de algo. Significa assentir com os movimentos como surgem na realidade, ou seja, sem se arrogar o direito de julgá-los, se retirando numa certa modéstia. Por exemplo, quando Hellinger percebe que não podemos evitar a guerra, renuncia à esperança de uma paz eterna e passa a ver os grandes movimentos históricos como inevitáveis. Assentir significa reconhecer a realidade tal qual se apresenta no presente, e assim atuar em conexão com essa realidade, e não seguindo as próprias vontades, projeções ou ideais. 

Explica a dinâmica da constelação familiar como um método, e não um ritual, que permite alcançar uma profundidade em que tudo conflui, fora do tempo, sendo possível uma representação espacial que repercute na família real. Nesse momento, em que praticava as constelações tradicionais, Hellinger buscava alcançar uma imagem final ideal nas representações dos sistemas familiares. Mais tarde, percebeu que uma suposta imagem final não era tão importante, e sim, o importante era desencadear um movimento de solução.

Registro aqui um comentário sobre o que Hellinger chamou de peso anímico. Esse termo aparece mais nos primeiros livros, mas é coerente com todo seu pensamento. Tem a ver com “tocar a terra”, ter os pés no chão: tem maior peso anímico quem tem alguma dor, enfermidade, uma sorte difícil, culpa grave, ou ainda, os que assumem responsabilidades – como ter filhos, por exemplo. Em toda sua filosofia, Hellinger valoriza a vida comum das pessoas, a realidade tal qual se apresenta. Ele desconfia dos que se sentem superiores e abandonam seus compromissos correntes para seguir uma suposta vida espiritual, se sentindo melhores ou mais importantes do que os outros. Para ele, os aspectos que conferem maior peso anímico – e mais força – são os vínculos, o comprometimento e a atitude de encarar a realidade tal qual é, assentindo e assumindo as próprias responsabilidades. 

Destaca que a intervenção do terapeuta deve durar pouco e focar no que fortalece a solução no sistema.  Ressalta a importância de centrar-se num contexto sistêmico mais amplo, e explica que, para evitar dispersão, interrompe o cliente quando este entra em mágoas, memórias, interpretações. Quando a entrevistadora afirma que suas palavras soam duras, arrogantes, Hellinger reafirma que é preciso reconhecer o que é, sem desvios. É importante observar que nesse período, Hellinger ainda utilizava técnicas aprendidas em outras terapias, como a Gestalt, para reduzir as resistências dos clientes. Anos depois ele se tornaria mais suave na abordagem com os clientes, deixando de focar em suas resistências e respeitando cada um exatamente como é – em consonância com a evolução da filosofia das constelações familiares. 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *